Outro intelectual do seu tempo, João de Barros (1496-1570), que em 1532, manifestando-se sobre as ideologias da época, de certo erasmismo então em voga e dos seus aruatos, já afirmava que, o Homem, - com o objectivo de enganar (explorar) os seus semelhantes (escreve em Rópica Pnefma), o sol vendia se estivesse ao seu alcance - de tudo o que alcança no mundo quer fazer mercadoria. Assim, pelas palavras de João de Barros: Coisa alguma há no mundo fora de mercadoria?
Em 1532, escrevendo Ropicapnefma, - Mercadoria espiritual - João de Barros fala pelo Entendimento que, aliádo à Vontade e ao Tempo, enfrenta a Razão. Enquanto protagonistas da disputa entre a Razão e o Entendimento, são personagens do diálogo: a RAZÃO (o Poder / Saber), e contra ela estão o ENTENDIMENTO, a VONTADE e o TEMPO.
Diz João de Barros que se formou na Corte portuguesa, e que…
[Entendimento]: Sei mais o que me deu a Natureza e o Paço, que eu mais estimo, por ser um saber galante e cortesão, não ganhado ao fumo da candeia do escolar, porque tem outras priminências naturais e não abachereladas.
[Razão]: Que preminências?
[Entendimento]: Não, mau vocábulo é este, ainda me isto ficou do estudo; não é o termo cortesão priminências: primores quisera dizer.
[Razão]: Bem, a que chamas tu primores? Não é termo derivado do latim como priminências?
[Entendimento]: Ó que especial cousa! Há de se comparar a doçura e graça de um vocábulo ao outro? Isto são passos substanciais para homens de arte e de muito preço. Que farias já se visses o modo da Corte no falar, no escrever e no vestir, quando somente de um termo loução te espantas? Como se achariam enleados Demóstenes e Túlio [Cícero], se lhe dessem uma carta de um homem destes especiais da corte? Parece-te, quando viesse ao subscrito, por mais copiosas que a língua grega e latina fossem, achariam vocábulos conformes a sua qualidade? Se soubesses que cousa é entrar ou atravessar uma casa, com despejo e ar do corpo, sem pôr a mão pelo cabelo ou bulir com as luvas, e quanta desenvoltura tem o que sabe cometer uma mó de homens especiais e de respeito, partes essenciais do Paço, eu te afirmo que julgarias poder trinchar a um rei quem acertar a junta dum subscrito dos de agora. (...) Para que melhor entendas quem eu sou e noutra hora não faças de mim tão torpes comparações como fizeste, deixo as letras à parte, e venho ao puro e natural saber, ganhado por sangue e conversação com homens especiais e de grandes qualidades. (...)
Nota: Sobre o significado da importância social da expressão trinchar a um rei, pode e deve ler O Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdão, contemporâneo de Gil Vicente e de Barros.
O homem de arte, especial da Corte portuguesa, a que João de Barros se refere em 1532, é Gil Vicente - homem da arte retórica - que havia pouco tempo tinha estado em Santarém (1531) ao serviço de el-rei, para acalmar a população enfurecida contra os cristãos-novos (judeus e mouros). No texto, que transcrevemos, João de Barros coloca Gil Vicente a par, ou mesmo acima, de Demóstenes (grego) e de Cícero (romano), considerados na época os maiores expoentes na retórica.
Sabemos que se refere a Gil Vicente porque João de Barros escreveu na sua Gramática da Língua portuguesa (1539) dizendo que foi ele quem mais e melhor tratou a língua portuguesa... E Gil Vicente cómico [ comediógrafo ] que a mais tratou em composturas [ composições ] que alguma pessoa destes reinos...
Se quanto às atitudes, à retórica e ao domínio de uma assembleia João de Barros coloca Gil Vicente acima de Demóstenes e de Cícero, quando à poesia, ao pensamento e amplitude do saber, Gil Vicente, sendo o único autor português referenciado, é apresentado pelo autor do Diálogo em louvor da nossa linguagem (ainda na sua Garmática), entre Virgílio e Aristóteles...
Nesta gravidade (como já disse) a [língua] Portuguesa leva a todas, e tem em si uma pureza e sequidão para cousas baixas, que se lhe pode por a tacha que Pérsio [Aulo Persio Flaco] (na Sátira primeira) punha aos versos de Virgílio: os quais dizia serem tão de severo e cobertos de casca, que se não podiam abrandar. Pero, com aquela majestade e alteza, falou no quarto de sua “A Eneida” tão alta e mimosamente do amor, que lhe não chegaram as guarredices de Ovídio, e as doçuras de Petrarca, que nestes brincos muito se esmeraram.
Foi o Virgílio naquele seu livro, como nestes nossos tempos O Queguem [Johannes Ockeguem, 1410-1497] em a compostura [ composição ] da música: todas as excelentes consonâncias achou, depois Jusquim [Josquin des Près, 1440-1521] e outros compoedores [ compositores ] que vieram, sobre elas fizeram sua diminuição e contraponto. A linguagem Portuguesa, que tenha esta gravidade, não perde a força para declarar, mover, deleitar, e exortar a parte a que se inclina: seja em qualquer género de escritura. Verdade é ser em si tão honesta e casta: que parece não consentir em si uma tal obra como Celestina.
E Gil Vicente cómico [ comediógrafo ] que a mais tratou em composturas [composições] que alguma pessoa destes reinos, nunca se atreveu a introduzir um Centúrio Português [ organização e ordem ]: porque como o não consente a Nação, assim o não sofre a linguagem. Certo, a quem não falecer matéria e engenho para demonstrar sua tenção, em nossa linguagem não lhe falecerão vocábulos. Porque, de crer é que, se Aristóteles fora nosso natural, não fora buscar linguagem emprestada para escrever na filosofia, e em todas as outras matérias que tratou.
O ponto mais alto deste elogio, para além do paralelismo com as grandes figuras da cultura greco-romana, poetas, retóricos, historiadores, filósofos, junto com a afirmação de que Gil Vicente foi o maior destes reinos no tratamento e uso da Língua, o maior elogio, como dizíamos, é sem dúvida a sua conclusão: porque nunca lhe faltou matéria e engenho para demonstrar sua tenção, para demonstrar tudo aquilo que bem quis…
A Língua é um meio, sem dúvida o melhor veículo de comunicação, contudo, com ela e para além dela, é necessário e fundamental, a matéria, o engenho e o saber, a arte para se demonstrar o que se quer - e com a intenção de o fazer.
- [*] -
Sem uma razoável compreensão das obras de Platão, ainda hoje consideradas pelos especialistas muito herméticas, não será possível avançar na teoria da Arte, nem no esclarecimento dos processos criativos do pensamento, nem numa exposição mais clara de um pensamento figurativo.
Contudo, Gil Vicente compreendeu bem o filósofo grego - pois, tal como o filósofo grego construiu o seu discurso pela retórica do drama, construindo em cada diálogo, uma acção dramática, baseada na História, com a definição de lugar e tempo da acção - também o fez o dramaturgo da Corte portuguesa, seguindo do mesmo modo a regra de ouro de Platão nas suas obras:
... dispondo e ordenando em conformidade o seu discurso, oferecendo à alma complexa discursos complexos e com toda a espécie de harmonias, e simples à alma simples.
[ Platão, em Fedro (277c) ]
Por isso as obras de Gil Vicente, como as de Platão, são de extrema importância para a teoria da Arte nos seus fundamentos. Contudo, antes de se avançar numa teoria da Arte é necessário e indispensável conhecer e compreender as obras de Arte, e ir mais além da forma aparente (das sombras, espectros) que povoam o universo figurativo de uma obra de Arte.
Este tem sido o objectivo do nosso trabalho.
(Noémio Ramos)
Publicações recentes:
Em Outubro de 2019 publicámos:
Gil Vicente Auto das Barcas
Inferno - Purgatório - Glória
Em Julho e Agosto de 2017 publicámos nove livros, abrangendo dez peças de teatro de Gil Vicente.
Aderência do Paço, ...da Arcádia ao Paço.
Frágua de Amor, ...a mercadoria de Amor.
Feira (das Graças), ...da Banca Alemã.
Os Físicos, ...e os amores d'el-rei.
Vida do Paço, ...a educação da Infanta e o rei.
Pastoril Português, Os líderes na Arcádia.
Inês Pereira, As Comunidades de Castela.
Tragédia Dom Duardos, O príncipe estrangeiro.
Regateiras de Lisboa
O Velho da Horta, 2ª Edição
Em 2016 publicámos as peças Auto dos Reis Magos e Auto dos Quatro Tempos (ambas de 1503) ... Com a análise destas peças apresentámos também algumas considerações sobre a influência da vida e obras italianas nestas peças. Pronunciámo-nos ainda sobre o Auto de la Pasión de Lucas Fernández.
Em 2014 publicámos a peça de Gil Vicente de 1502, Auto Pastoril Castelhano, com a análise completa da peça e alguns comentários. Também apresentámos breves indicações sobre Reis Magos e Sepultura de Gil Vicente.
Em 2013 publicámos a peça de Gil Vicente de 1515, Exortação da Guerra, com a análise completa da peça e alguns comentários. Apresentámos também breves abordagens do Auto da Fama (1514) e da Oração Miserere Mei, de 1516/1517.
Em 2012 publicámos mais duas peças de Gil Vicente, de 1526 e de 1527, com a análise e comentários. Nestas publicações encontra ainda algumas análises sobre outras peças de data próxima, assim:
1526: (1) Templo de Apolo; (2) Comédia sobre a divisa da cidade de Coimbra - ou Tragédia de Liberata; (3) Farsa das Ciganas; (4) Clérigo da Beira - ou Pedreanes.
1527: ... (2) Escrivães do Pelourinho - (Feira da Ladra).
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