E pera declaração
desta obra santa et cetra...,
quisera dizer quem são
as figuras que virão
por se entender bem a letra.
                                            Gil Vicente
  ... em  Romagem dos Agravados.
Gil Vicente
   Renascença e Reforma - Líderes políticos e ideólogos - Ideologia e História da Europa
Online desde 2008 - Investigação actualizada sobre as obras de Gil Vicente.
Retórica e Drama - Arte e Dialéctica
Teatro 1502-1536
o projecto
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  Maios (mayos)
maios balairico
Conhecer os Maios...
Para ver (ler) os Maios em Gil Vicente
Por Noémio Ramos
Em Agosto de 2009.
 
Exemplos
dia de Maio
dia de maio
dia de aventura
ainda agora era manhã
já é noite escura
maios_ovelhas
Os Maios (ou Mayos, em Espanha) são bonecos aprontados como gente, representando figuras de pessoas em tamanho natural, vestidos e calçados com a roupa habitual das pessoas representadas,  nas suas atitudes habituais (normais ou caricaturadas) que se apresentam isolados ou em conjunto, representando cenas do quotidiano (do passado ou actual).

No primeiro dia de Maio de madrugada, essas figuras (quase sempre realizadas durante a noite de 30 de Abril), são colocadas junto das portas, janelas, varandas, jardins, quintais, ruas, largos, etc..
Junto de cada boneco, ou sobre o próprio, estará (ou não) colocada a fala ou o pensamento do sujeito representado, ou um comentário ou narração da cena referindo o momento daquele instantânio retirado ao teatro de uma vida real.

Estas narrativas, ou mesmo o dizer de cada figura, apresentam-se (quase sempre) na forma de versos, enquadrados em estrofes de formato popular.
Os bonecos, as cenas, os dizeres e as narrativas, por vezes bem revestidas de humor, têm muitas vezes um sentido crítico, sob a forma de sátira, ou sarcasmo, em especial quando há motivo para isso na comunidade local, regional, nacional ou mesmo internacional, mas a maioria das vezes são apenas uma celebração saudável do quotidiano.


Colocados na madrugada do primeiro dia de Maio, são retirados ao anoitecer. Estão um dia em exposição, é o dia da festa - celebra-se a Primavera - e, nesta festa, estes Maios convivem bem com o maio florido e a sua deusa Maia.


Podemos ver os Maios (mayos) no dia da festa, ou dia de Maio, o dia primeiro de Maio, ao longo da fronteira (Centro-Sul) Portugal e Espanha, em especial em Espanha, na Extremadura, (San Vicente de Alcantara, Santiago de Alcantara, Valencia de Alcantara, Puebla de Obando, ...), mas nós conhecemo-los sobretudo do Algarve, entre Loulé e Tavira, em especial nos concelhos de Faro (Estói) e de Olhão, (Olhão, Moncarapacho, Quelfes) dos Açores (ilhas Terceira, Graciosa, ...), das Canárias (Santa Cruz de La Palma). Estes mayos aparecem ainda em Murcia, Espanha.




       Estes Maios, são bonecos representando pessoas, em tamanho natural, vestidos e calçados com a nossa roupa mais usual, aprontados tal como gente, em atitudes humanas normais, isolados ou em grupo, encenando um quotidiano passado ou actual: com as mãos usando luvas, ou feitas de tecido, com uma forma mais tosca ou mais aperfeiçoada, ou, como que enfiadas nos bolsos, quando a preguiça para as fazer é maior; nos pés, alguns sapatos velhos ou, de preferência umas botas, que deste modo, melhor se sustenta o resto do corpo; as cabeças como as bolas de trapo, servem de suporte às caras desenhadas sobre um pano quase sempre branco, sobrancelhas, olhos, nariz, boca; os olhos substituidos por óculos escuros, ou apenas os aros ajudando à sua aparência real, ou escondendo os traços de um desenho que se queria de melhor qualidade; barba e cabelo também desenhado, ou cabelos em lã ou outro material, ou em seu lugar, um chapéu, lenço, barrete ou boné, ou uma fita de pano segurando alguns fios que caem sobre a nuca, ou outra alternativa que pareça real, por vezes um retoque mais aprimorado, como um bigode, bem colado, feito de linhas ou fio de lã, uns brincos, um fio ou colar ao pescoço, ou aquela peça de adorno que já usámos, completam a figura que assim se apresenta pronta a ostentar, ou a se enquadrar com os objectos reais com os quais vai ser plantada. De um modo geral tudo é real e de uso comum, excepto o elemento humano que foi substituido por palha, trapos, sacos de plástico, ou qualquer outro material, que dentro dos invólucros e enfeites normais e usuais do nosso corpo, o substituem.


(c) 2005, Noémio Ramos, em "os maios de Olhão..."
dia da festa - 2009
alguns dos Maios fotografados em Bias (Moncarapacho)
Uma breve descrição de um Maio de crítica ao governo, a José Sócrates.

        O Maio (em baixo) é uma cena. A acção representa uma patrulha de transito da GNR em carro descaracterizado tendo acabado de apanhar um motoclclista alcoolizado e procedido ao auto.
        Sem censura, este Maio desenvolve-se colocando José Sócrates na figura do agente da GNR, José SoCrava, que acaba de apanhar o Zé Povinho na figura do alcoolizado. Contudo, se fossem tempos de censura, os nomes das personagens e as referências poderiam estar mais desvanecidas.
        Neste Maio o texto é um comentário narrativo da actualidade vivida pelo Zé Povinho, e o saber popular aproxima-se aqui da sabedoria: simples para as mentes mais simples, mas complexo e pleno de questões diversas para as mais atentas; por uma criação figurativa (mesmo popular) se atinge uma verdade, como o autor dos versos sublinha:
Esta é a nossa realidade! / Dita de uma mentira indirecta / mostra bem a verdade / de uma forma tão certa.

        A leitura de cada folha de papel acrescenta mais um pormenor ao instantânio da cena criada pelo autor deste Maio, um anónimo (aqui o homem de costas atrás do Zé Povinho) como todos os outros, nos termos de uma tradição secular... 








No Algarve
o primeiro de Maio
é também o dia do Caracol...

As gripes hoje 1º Maio


  Já não se pode descansar
  com as doenças que aí andam
  temos de começar a actuar

  Tirei o meu dia de folga
  para experiências fazer
  vou oscultar este caracol
  não vá ele a gripe trazer

  Fala-se na gripe suina
  que mais virá a seguir
  já não se pode constipar
  nem tão pouco tossir

  O Sócrates esse sim
  a gripe devia apanhar
  ficava de quarentena
  sem mijar nem cag...

  Com a gripe do caracol
  não te aproximes que és um alvo
  deixa tudo muito mole
  nem com viagra tás a salvo.


1 de Maio de 1886, dia de Luto
Celebre-se a Luta com Alegria


Maios (mayos)
- Livros publicados no âmbito desta investigação, da autoria de Noémio Ramos:

(2019)  - Gil Vicente, Auto das Barcas, Inferno - Purgatório - Glória.
(2018)  - Sobre o Auto das Barcas de Gil Vicente, Inferno, ...a interpretação -1.
(2017)  - Gil Vicente, Aderência do Paço, ...da Arcádia ao Paço.
(2017)  - Gil Vicente, Frágua de Amor, ...a mercadoria de Amor.
(2017)  - Gil Vicente, Feira (das Graças), ...da Banca Alemã (Fugger).
(2017)  - Gil Vicente, Os Físicos, ...e os amores d'el-rei.
(2017)  - Gil Vicente, Vida do Paço, ...a educação da Infanta e o rei.
(2017)  - Gil Vicente, Pastoril Português, Os líderes na Arcádia.
(2017)  - Gil Vicente, Inês Pereira, As Comunidades de Castela.
(2017)  - Gil Vicente, Tragédia Dom Duardos, O príncipe estrangeiro.
(2015)  - Gil Vicente, Auto dos Quatro Tempos, Triunfo do Verão - Sagração dos Reis Católicos.
(2015)  - Gil Vicente, Auto dos Reis Magos, ...(festa) Cavalgada dos Reis.
(2014)  - Gil Vicente, Auto Pastoril Castelhano, A autobiografia em 1502.
(2013)  - Gil Vicente, Exortação da Guerra, da Fama ao Inferno, 1515.
(2012)  - Gil Vicente, Tragédia de Liberata, do Templo de Apolo à Divisa de Coimbra.
(2012)  - Gil Vicente, O Clérigo da Beira, o povo espoliado - em pelota.
(2010)  - Gil Vicente, Carta de Santarém, 1531 - Sobre o Auto da Índia.
             - Gil Vicente, O Velho da Horta, de Sibila Cassandra à "Tragédia da Sepultura" 
(2ª Edição, 2017)
(2010)  - Gil Vicente, O Velho da Horta, de Sibila Cassandra à "Tragédia da Sepultura".
(2010)  - Gil Vicente, Auto da Visitação. Sobre as origens.
(2008)  - Gil Vicente e Platão - Arte e Dialéctica, Íon de Platão.
             - Gil Vicente, Auto da Alma, Erasmo, o Enquiridion e Júlio II... 
(2ª Edição, 2012)
(2008)  - Auto da Alma de Gil Vicente, Erasmo, o Enquiridion e Júlio II...

- Outras publicações:
(2003) - Francês - Português, Dicionário do Tradutor. - Maria José Santos e A. Soares.
(2005) - Os Maios de Olhão e o Auto da Lusitânia de Gil Vicente. - Noémio Ramos.

  (c) 2008 - Sítio dedicado ao Teatro de Gil Vicente - actualizado com o progresso nas investigações.

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O Teatro de Gil Vicente
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